sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Elegia

-Se um filho meu me chamar de papai, pode ser da idade que for, eu desço a porrada nele na hora e mando parar de ser viado.

Disse Victor, que no tempo era um amigo meu. As pessoas ao redor riram e aprovaram aos gritos. Eu não respondi. Concordei, com um riso forçado. Dentro da minha cabeça, eu senti uma pressão escura, uma vontade de retrucar, mas, eu não tinha as ferramentas e nem a coragem necessária para dizer algo naquele tempo.

18 anos depois, estou no velório de um homem. Eu já vim a este mesmo velório antes. O morto era uma pessoa que se preocupava com suas responsabilidades, e prezava por seus amigos a sua maneira. Mas, era uma maneira fria e distante. Muitas vezes as pessoas próximas a ele não entendiam seus modos e motivos.  Eu não entendia o morto, não sabia se aquela era sua personalidade ou se era se aquilo era o ele pensava que as pessoas esperavam dele. Uma aura de seriedade, uma atitude impassível diante de todos os problemas, ele nunca pedia ajuda. E ele morreu por isso.

Durante as elegias, eu escuto as pessoas a quem ele tocou a vida se desfazerem em lagrimas, eu consigo sentir a dor delas, as verdades escalam do meu estomago e entalam na minha garganta. E eu sei que um dia eu vou velar os meus pais. Talvez enterre amigos próximos. Um dia alguém vai me enterrar.

Depois dos ritos fúnebres eu passei a chamar meus pais de Papai e Mamãe. Passei a abraçar meus amigos. Tudo é muito breve para se importar com coisas tão pequenas, aquele grupo de “amigos” não vale o tempo. Apenas durante esse fiapo de tempo e sonho eu posso mostrar aos meus queridos o que que sou, e o quanto os quero bem.

Eu fui duas vezes a um mesmo funeral. Quando eu começar a esquecer as verdades, quando me faltarem ferramentas ou coragem para ser o que realmente sou, eu vou uma terceira vez velar e prantear o rei dos sonhos. 


Nenhum comentário:

Postar um comentário