quinta-feira, 20 de maio de 2021

Live A Live

 

Live A Live

“Os homens amam com pressa e detestam com calma” (Don Juan, (1819-24) canto 13, st. 4.)

“Poetas ruins imitam, poetas bons roubam”. (T.S. Eliot)1

 

Esses são os temas jogo dessa noite: Live A Live. Bem vindos ao Canal 3. Do distante ano de 1994. Um jogo ambicioso que apresenta 7 protagonistas com histórias dispares, mas, que são conectadas pelo antagonista Ódio: O rei dos Demônios. Esse jogo nunca foi lançado oficialmente no ocidente e muitas pessoas só puderam jogá-lo graças ao trabalho excelente de um grupo de fãs chamado Aeon Genesis.

O jogo conta com 7 mangakas diferentes para desenhar os protagonistas e teve a direção de Takashi Tokita que foi o diretor de Crono Trigger e Parasite Eve. A seguir as marcas de tempo para quem quiser pular para uma parte específica.

Arte e Gráficos

Dois estilos gráficos se completam: O primeiro mostra os personagens nos cenários e interagindo uns com os outros e que ele tem uma aparência muito próxima a de Final Fantasy onde os personagens com cabeças grandes e baixinhos. (O estilo conhecido como Chibi.). No segundo, que só é mostrado em combate, eles tem proporções corretas e as animações são mais chamativas e são gostosas de assistir. Eu não acho que esteja entre os mais bonitos do Super Nintendo, mas, não é tipo que ofende com a feiura.

Apesar dos personagens terem desenhistas diferentes eles foram adaptados aos gráficos do jogo e tem um Q de semelhança. Vou destacar meus dois preferidos: Yumi Tamura [Cube] que autora de 7 Seeds e Kazuhiko Shinamoto[Akira] em (responsável pelo mangá Kamen Rider ZO).

Música

 Como praticamente todos os jogos da Squaresoft dos nos 90 as músicas de Live a Live são ótimas. A trilha sonora foi composta por Yoko Shimomura, conhecida por ter trabalhado nas trilhas sonoras de Kingdom Hearts, Xenoblade, Parasite Eve e do meu preferido: Super Mario RPG. Os diversos cenários têm músicas que caem muito bem e apesar de eu adorar as músicas do cenário futuro distante (Que amplificam a sensação de solidão na nave), a minha preferida é o tema do Robô-gigante Buriki Daioh! Fique com 20 segundos dela:

Jogabilidade

O ciclo de jogo se divide em duas partes: Na primeira parte você explora os cenários de acordo com a história de cada capítulo. Em quatro capítulos: Harmonia (Flow), Contato (Contact), Nômade (Wandering) e Herança (Inheritance) a exploração se dá de maneira muito parecida com JRPGS tradicionais. O famoso ciclo: conheça personagens, ande pelas cidades, resolva problemas e enfrente chefes.

O capítulo ordens secretas depende de como o jogador quer o encarar: Como uma aventura de furtividade ala Metal Gear ou como um massacre em que o ninja implacável mata todos em seu caminho. (Ala Metal Gear Revegenance)

No capítulo “O mais forte” É composto apenas por 6 lutas e você escolhe seus adversários por uma tela que lembra jogos de luta.

E por falar em lutas como em todo JRPG Live a Live tem uma grande quantidade delas, então, vamos ao sistema de combate! Aqui os personagens se organizam em um tabuleiro em forma de grade e trocam sopapos de acordo com o alcance de seus golpes. Alguns personagens podem manipular o campo criando zonas elementais que causam danos aos inimigos e outros lutam com contragolpes e desarmes. Isso cria um sistema em que é possível através de uma estratégia bem pensada vencer inimigos com níveis muito mais altos que o do jogador.
   Para um certo personagem existe a opção de mandar a estratégia se danar e usar um revolver para matar todos os inimigos. Bem, funciona!

Os inimigos podem agir entre uma ação e outra de seu grupo então o comando de passar o turno serve para que você use sempre o personagem mais próximo dos inimigos. Isso encoraja o jogador a prestar atenção na formação e a não desperdiçar tempo andando pelo tabuleiro.

Uma coisa legal é que não é necessário usar uma magia especifica para ressuscitar os aliados que caem. Basta chegar perto e usar qualquer cura. (Wake me up inside)

 Após todos os combates os personagens recuperam vida, isso economiza tempo já que não é necessário abrir o menu para curar ou mesmo ressuscitar aquele personagem que sempre morre em combate.

Esses elementos formam um sistema de combate veloz e divertido que ajudam no ritmo do jogo.

Infelizmente não é um sistema muito equilibrado e certos personagens que têm funções parecidas são muito melhores que os outros. (Quem diria que uma saraivada de balas ia causar mais dano que um golpe de Katana =)

Outro problema com a jogabilidade é que em alguns momentos o jogo se torna obtuso e exigi do jogador doses colossais de paciência. Tudo bem que itens e lutas secretas serem difíceis de encontrar, mas, no capítulo final o jogo exagera incluindo aquelas coisas estupidas como ter que encontrar um caminho entre as arvores sem ver o personagem e colocar uma dungeon inteira que tem apenas um inimigo muito irritante. Não são elementos que deixam o jogo mais difícil, apenas mais demorado e vão contra os elementos de desenho de jogo estabelecidos no combate.

Afora esses tropeços a dificuldade do jogo é baixa o que pode deixá-lo um pouco entediante para quem gosta de um desafio(Como em Ressonance of Fate)  e sonolento prefere JRPG`s mais cruéis.  [SMT referência]

História

As histórias contadas em Live a Live tem vários temas e inspirações bem claras e a única coisa que as liga é o protagonista ODIO. Eu vou falar um pouco de cada uma delas e depois do capítulo final. Se você quiser experimentar o jogo por si mesmo, pare o vídeo agora.

Bem vamos lá:

A primeira história se chama Contato e conta as aventuras de Pogo um simpático homem das cavernas e seu amigo Gori (que por coincidência é um gorila). Aqui é tudo simples, depois de passar um tempo caçando você encontra uma mulher que fugiu da tribo rival porque ia ser sacrificada ao último tiranossauro vivo(O-D-O). Essa parte do jogo é experimental e aqui nenhum personagem fala, eles se comunicam apenas por sinais, linguagem corporal e murrros na cara. Eu achei a ideia boa e tem até uma mecânica própria do capítulo (apertando Y no controle Pogo cheira e adquiri dicas do ambiente). Acaba sendo uma história simples e que acaba de forma abrupta.

A segunda história é sobre um mestre de um estilo de kung-fu (Chamado Xin) que sente que seus dias estão chegando ao fim e decide que que precisa de um sucessor. Então ele acaba recrutando 3 ex-ladrões para serem seus alunos. O legal dessa história é que você decide qual vai ser o seu sucessor quando escolhe qual dos alunos vai treinar mais. Eu escolhi Li Kuugo para ser a sucessora quando joguei.

Claro, uma escola rival de kung-fu (comandada pelo terrível Odi Wang Lee) decide atacar seus alunos matando os mais fracos. Então, o mestre e seu aluno escolhido partem para a vingança. A história é baseada nos antigos filmes de Kung-fu de Hong Kong.

A terceira história se chama ordens secretas e é sobre um ninja prodígio chamado Oboro-Maru que recebe de seu clã a ordem de regatar Rioma Sakamo do castelo do senhor feudal Ode Iou. O antagonista quer que o Japão entre em uma guerra civil para se tornar Xogun. Essa história é meio rasa, mas, tem duas coisas legais sobre ela: A primeira é que Rioma Sakamoto é uma figura histórica real do Japão. Ele foi Samurai, participou de várias batalhas e da restauração Meiji um evento histórico essencial para o nascimento do Japão Imperial. (Ok, falei muito de história espero que ninguém tenha dormido)
   A segunda é que aqui o jogador pode escolher como executar a tarefa de 3 formas: Matando todos no castelo (difícil pra caramba pode preparar um guia) sem matar ninguém (também difícil pra caramba, recomendo um guia) e por último matando apenas quem se coloca no seu caminho.

A quarta história se chama “O mais forte” e é a única no jogo que eu achei péssima.  Masaru é um lutador que quer se tornar o mais forte de todos, então, ele sai batendo em outros lutadores e aprendendo suas técnicas para conseguir isso. Depois de vencer seus 6 oponentes e um maluco chamado Odie Oldbright (que adivinha só: matou os lutadores que ensinaram Masaru) o capítulo acaba. Masaru sequer aprende a dar um suplex decente. E ele também não é capaz de dar um suplex em um trem. Fracote.

Na quinta história (chamada Harmonia) as coisas voltam a ficar interessante, pois, aqui eu joguei joga com Akira, um adolescente  consegue ler a mentes e usar seus poderes telecinéticos para lutar. Ele tem como passatempo dar pancadas na gang de motoqueiros da cidade (os Cruzados). Com a ajuda de seus amigos ele desvenda uma conspiração envolvendo o governo, os cruzados e um culto. Os conspiradores raptavam pessoas e as sacrificavam para reviver um antigo deus chamado Odeo. O deus é revivido, mas, Akira consegue um robô Gigante para enfrentá-lo.
Eu resumi muito a história desse capítulo que é de longe a mais complexa e cheia de personagens. É uma mistura de Akira (o filme animado) com anime Mecha onde o protagonista usa um robô gigante para matar um deus. Se você tiver que jogar apenas uma história de Live a Live: Jogue essa!

A sexta história tem um nome magnifico: Coração Mecânico. É sobre um robô chamado Cube. Ele está a bordo de uma nave espacial (a Cogito Ergo Sum) voltando para a terra e foi construído pelo mecânico da nave: Kato. Depois de conhecer os tripulantes da nave (que estão hibernando durante a viagem espacial) Cube passa um tempo com eles. Mas, é claro que algo horrível tinha que acontecer: Várias falhas nos equipamentos da nave e a fuga de uma criatura que estava pressa no compartimento de carga mata a maioria dos tripulantes. Então Cube tem que salvar os tripulantes que restam e descobrir quem está fazendo isso. O culpado no final das contas é OD-10 o computador da nave, que é claro não vai se deixar ser desligado sem uma luta. Esse capítulo tem referencias claras a Alien e 20001 uma Odisseia no Espaço, mas, ele remixa a história como um mistério. É o meu segundo preferido. Eu acho essa a segunda melhor história do jogo.

E por último eu quero falar da história que eu não sei bem se gosto ou não. No capítulo chamado Nômade, eu joguei com um procurado durante os tempos do oeste selvagem conhecido como Sundown Kid. Claro, Sundown tem um rival que o prossegue pelo oeste chamado Mad Dog. Os dois chegam a uma cidadezinha chamada Sucess e depois de interagirem um pouco com os locais (e com uma criança bem chata) eles marcam um duelo. Ao invés de atirarem um no outro matam dois integrantes do Crazy Bunch um bando de malfeitores que assombra a cidade a mando de O.DIO. Os dois decidem deixar suas diferenças de lado para defender a cidade. Depois de acabarem com os bandidos eles tem uma luta final em que Sundown vence e sai cavalgando em direção ao pôr do sol. Eu deixei de fora os detalhes, mas, vou falar de algo que me incomodou nessa história: Pouco ande do capítulo acabar o passado de Sundown Kid é revelado: Ele teve sua vila inteira morta por bandidos e ele se culpa por isso. Então, ele colocou uma recompensa sobre a própria cabeças, ele continua matando as pessoas que vem atrás dele. Eu gosto bastante do cenário da história que é influenciada pelos 7 Samurais e por filmes de velho oeste, mas, isso eu não consegui a falta de sentido nas ações do Cowboy.

Depois de conhecer os 7 protagonistas o jogo tem dois capítulos o oitavo que conta que conta a história do Rei Demônio ODIO e o que liga todas as histórias.

O antigo reino de Lucretia foi assolado por um feiticeiro muito poderoso chamado ODIO, o de Rei dos Demônios. Ele foi derrotado por dois heróis lendários chamados Harsh e Uranus. Muitos anos depois o rei de Lucretia   está realizando um torneio para decidir quem vai se casar com a princesa do reino, Alicia, e se tornar o novo Rei. A luta final é entre dois amigos Oersted e Straybow. Oersted vence, mas, a princesa é raptada por um demônio voador o que indica que o Rei dos Demônios está de volta. Então Oersted e seu amigo Straybow se juntam com dois heróis (Harsh e Uranus) que derrotaram a antiga encarnação do rei demônio. Porém eles ao chegarem no covil do vilão eles são presos em uma armadilha que mata Straybow e Harsh. Então Oersted e Uranus voltam ao castelo para se recuperar. A noite o rei demônio aparece no castelo e Oersted o ataca, mas, era uma ilusão e ele acaba matando o rei. A sorte do cavaleiro só piora daqui pra frente porque ele e Uranus são presos, o monge não resiste a tortura, mas, consegue usar uma última mágica para libertar Oersted. Ele volta ao pico do Demônio e descobre uma câmara secreta onde encontra a princesa Alicia e seu amigo Straybow. Ele na verdade manipulou, se apossou do poder do Rei Demônio e raptou a princesa. Como todo bom vilão ele revelas seus motivos antes da batalha final: Straybow se cansou de viver a sombra do amigo famoso e talentoso e decidiu que essa vitória seria deles. Então eles lutam e Oersted mata seu amigo. A princesa Alicia aparece e fica chocada porque estava apaixonada por Straybow então, ela saca uma faca e se mata na frente do pobre Oersted. E essa é a gota d`agua o cavaleiro começa a amaldiçoar as pessoas e a estátua do rei demônio começa a brilhar indicando que existe um novo ODIO.   A história desse capítulo é diretamente inspirada por Final Fantasy e a relação de Straybow e Oersted é um reflexo da relação de Cecil e Kain de Final Fantasy IV.

No capítulo final todos os personagens são transportados para o reino de Lucretia e o jogo pede que você escolha o principal. Eu escolhi Sundown e depois tive que encontrar os outros e ir lutar contra Oersted/ODIO. Pelo que eu entendi o antigo Rei Demônios (antecessor de Oersted) conseguiu uma maneira de espalhar sua influência através do tempo, por isso, os antagonistas do jogo são todos ODIO. E sempre que uma pessoal sucumbe ao ódio da humanidade ela pode se tornar o próximo rei dos demônios. Depois de derrotar o vilão os protagonistas voltam para suas respectivas eras.

Pensamentos/ Conclusão

No geral eu gostei bastante da história do jogo porque apesar dos tropeços ela tem um ritmo muito bom (o que me lembra Crono Trigger e Parasite Eve) onde está sempre acontecendo algo muito importante e o que é chato acaba passando rápido. As histórias têm claras influências de gêneros do cinema e outros jogos, mas, todas são uma espécie de remix então acabam tendo uma personalidade própria. (Menos a de Masaru e sua falta de suplex)

A muitos anos eu tentei jogar esse jogo simpático pela primeira vez, mas, não cheguei até o fim, por isso fiquei com aquela sensação de negócios inacabados até que dessa vez consegui terminar. O jogo é uma bela experiencia vinda de tempo em que as grandes produtoras e estúdios ainda apostavam em novas ideias e conceitos experimentais.

Eu o recomendo para qualquer pessoa que goste de JRPG`s, mesmo os iniciantes. É uma bela experiencia que passa rápido e nenhum cenário exigi o famoso grind. Eu vou deixar uma nota para o jogo. Por quê? Por que dar notas para jogos é legal =)

E você veio até aqui, obrigado por escutar meus pensamentos boa noite e até a próxima.

 

 

 







1)https://quoteinvestigator.com/2013/03/06/artists-steal/
T.S.Eliot (Livre tradução, ou melhor: livre perversão)