Eu nunca tinha lido um
quadrinho da Mulher Maravilha. A conheci no desenho da Liga da Justiça (de
2001, criados pelos fantásticos Paul Dini e Bruce Tim) e adorei o que vi ali.
Ela naquela encarnação estava entre os titans de poder, e eu era apaixonado
pela atitude e pela voz da personagem. O episodio piloto da animação a trata
como se o público já a conhecesse. Eu, é claro, já tinha visto imagens e
referencias a ela, mas, naquela animação eu conheci uma heroína fantástica.
Engraçado que mesmo assim, eu nunca tinha buscado ler quadrinhos dela.
Willian era um psicólogo e
inventor. Ele e sua esposa Elizabeth Holloway
Marston foram os responsáveis pela invenção do poligrafo. Ele foi
convidado para trabalhar em quadrinhos e por sugestão de Elizabeth, criou sua
primeira personagem mulher. A aparência da Mulher Maravilha foi baseada em Olive Byrne. Olive
era mulher de Elizabeth e de Willian. Sim, o termo provavelmente não existia a
época mas, eles tinham um casamento polyamoroso. E eram praticantes do bondage. E sim, tudo isso tem a ver com a Mulher maravilha.
A serie terra UM da DC reconta
a origem de super-heróis e tenta angariar novos leitores ao não se ligar a
continuidades muito grandes e a mirar no público de livrarias.
O quadrinho começa contando a
história da criação de Temiscira ao narrar o embate entre Hércules e Hipólita.
Hércules aqui mostrado como um monstro tinha acabado de prender todas as
amazonas em jaulas e se divertia humilhando a Rainha Hipólita enquanto esperava
seu exercito de estupradores chegar (palavras dele não minhas). Sem entrar em
como Hipólita leva a melhor, sim tem a ver com correntes e uma certa Deusa,
depois de de matar seu inimigo ela tem como novo proposito fundar um novo lar.
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"Os gregos nunca sentiram a fúria das Mulheres" - Hipólita |
Três mil anos depois somos
apresentados a ilha Paraiso. Um lugar fantástico com uma tecnologia muito mais
avançada que tudo que existe na Terra e que permite a suas habitantes serem
jovens, felizes e imortais. Longe da violência que conheceram no mundo dos
homens e protegidas por uma barreira que impede que qualquer um chegue a ilha. Mesmo
que algum homem consiga chegar vivo a ilha, as leis dizem que ele deve ser
morto.
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Repare no Leão de Ouro. Devidamente acorrentado. |
Aqui também entra na história Diana, moldada do barro para ser a mais
poderosa amazona mais forte, veloz e inteligente do que todas as outras.
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Meu desenho preferido do quadrinho. |
Apesar de sua superioridade, Diana a
primeira vista é completamente submissa as leis da Ilha e aos desejos de sua
mãe. Ela tem uma grande curiosidade sobre o mundo externo e é apresentada como
jovial e brincalhona. Um dia Diana descobre nas praias da ilha restos de um
avião e encontra um piloto a beira da morte: Steve Trevor. Movida pela
compaixão ela tenta salva-lo com a tecnologia médica das ilhas, mas, a mesma
não funciona em homens. Diana então quebra várias das leis da ilha para
conseguir levar Steve de volta aos Estados Unidos onde a vida dele poderá ser
salva.
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Steve chegando na Praia mais pra lá do que pra cá. |
Os eventos que eu descrevi
acontecem bem no começo da história e são uma prévia da aventura. Eu sou fã do escritor
e nessa história ele não me decepciona. Existe um subtexto sobre dominação,
mas, com várias perguntas bem provocativas aos mais pudicos: Será que todas a dominação é ruim? Toda submissão é ruim? Todos os laços entre as pessoas, tem que
ser correntes? É realmente ruim estar amarrado a autoridade? E além destas
provocações é muito bom ver o choque de cultura entre a Mulher Maravilha e o
Mundo fora da Ilha Paraíso. E aqui o escritor ainda faz uma coisa muito boa: Mudou a etnia do Steve Trevor ( que em outra incarnações era desenhado como sendo um loiro caucasiano) mas, fez isso para que a mudança servisse a história mais a frente.
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Nem consegui encaixar no texto mas, achei essa imagem bonita demais pra não publicar. |
Eu não conhecia o desenhista,
que faz um trabalho soberbo na sua representação da mulher maravilha e das
amazonas. É legal notar o contraste que ele dá entre elas e os humanos comuns. O
único desenho que eu não gosto é o da capa, não é feio, mas, tem algo na
proporção que me incomoda. E a arte é que é responsável por entregar grande
parte do subtexto ao dividir os quadrinhos com correntes ou laços.
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Laços.
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Correntes |
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Arte da capa.
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O colorista é outro que faz um
ótimo trabalho. As cores de Temiscera e do resto da terra são um pouquinho
diferentes. A da Ilha Paraíso são mais vivas e as dos Estados Unidos mais
pasteis.
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Cores mais pastéis. E também os primeiros soldados espertos da ficção: Pra que atirar numa mulher que ta levantando um Jipe? |
Terminando, eu recomendo e muito
a Mulher Maravilha Terra UM. Diana é uma heroína fantástica alegre, inteligente e bela que abandona
literalmente um paraíso e acaba por tentar concertar um mundo quebrado. Ela o
faz por altruísmo, bondade e generosidade. Prefere usar a diplomacia, mas,
quando necessário usa a força ela não titubeia. Mesmo quando usa a força, tem
compaixão pelos seus “inimigos” entendendo que muitos nessa história
simplesmente foram dominados pelo medo. É meu arquétipo preferido de heroína.
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Tenho uma natureza boa, meu passado foi literalmente no paraíso, e ando por ai fazendo o bem porque é certo. |
Eu disse que ia terminar,
mas, duas curiosidades finais: Este quadrinho de que falei até aqui bebe muito
dos quadrinhos originais da Mulher Maravilha mas, mudou completamente a aparência
dela. A aparência da mulher Maravilha foi baseada em Olive, que inclusive usava
sempre braceletes. A família dos três teve vários filhos e quando Willian
morreu em 1947, Olive e Elisabeth continuaram casadas até 1985 quando Olive faleceu.
Elizabeth viveu até os 100 anos. Olive, a inspiração visual (e eu chutaria de parte do caráter)
da Mulher Maravilha morreu aos 81 anos.
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Aparência antiga da Mulher Maravilha. |
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